segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

stop

nunca quis voltar no tempo
sempre queria avançar as coisas
séries, etapas, idade, épocas...
mas não quero mais, pq tenho medo de onde isso vai dar.
agora, sem avançar, nem retroceder
pra onde?

pra onde resta quando se quer parar o tempo?

que será que será

Desejo para o Ano Novo
um novo ano.

Se eu acreditasse em reencarnação,
até uma vida nova servia.

sábado, 17 de outubro de 2009

metamorfose

"deixe estar
não seja
deixe de ser
esteja

Por que a gente vive de se criar só para se matar?"

Será que precisamos tanto assim de senhores que mesmo na ausência de qualquer outro patrão nos reprimimos a todo momento só para nos repor? Ou melhor, mesmo quando não há repressão, é o ápice de nossa servidão voluntária nossa prestação de serviços aos fantasmas que criamos e batizamos com nossos nomes.
E não estou falando de obedecer normas sociais, de valores ou qualquer outra coisa que possa compor algum superego. Não se trata da lei, da convivência com o outro, mas de nos fazermos outro e perdermos a vivência. O pensamento que suplanta a vida, como dizia meu professor de filosofia (na verdade, como critica Nietzsche), em que o pensar o mundo é mais importante que vivê-lo. Aliás, não só mais importante como dissociado.
A identidade que se afasta da atividade, quebrando a ponte da consciência. Se o mundo à nossa volta nunca é o mesmo ("tudo o que é sólido se dissolve no ar"), porque permanecemos os mesmos? Se nosso mundo muda, nossos atos mudam, da onde vem nossas obrigações de sermos o que somos. É porque somos assim...
Eu bem acho que 90% dos problemas da Psicologia teriam muito a ver com isso. E não falo nem da clínica, mas de tudo. Não digo que tudo seja resumido à esta dinâmica, mas que esta dinâmica esteja em tudo (ou quase) não vejo como negar.
Nos tormamos mercardoria de origem desconhecida, fetiche de nós mesmos em que nos alienamos de nossa produção reproduzindo as condições que nos tiram o que temos de mais humano: a mudança...
Sem mudança, sem fluxo, sem sangue. Morremos pelas nossas próprias mãos.

domingo, 11 de outubro de 2009

retorno

dai ele retornou à casa onde crescera. já faziam 20 anos que não cruzava aquele portão, mas viu uma bola de futebol deixada no gramado e pela janela uma bituca de cigarro ainda fumegava descansando no cinzeiro.
viu moleques descalços correndo e uma senhora que mexia a panela e olhava o relógio, mal sabendo que das horas que contava, poucas outras restavam por vir. como sentia saudade! mas não estava ali para buscá-la.
foi até o quarto e sentiu um cheiro de mofo, das coisas guardadas, trancadas em meio à umidade das lágrimas que nunca se viram libertas. inundavam por ali. estranhou como elas não haviam se alastrado pelo resto da casa
abriu o grande armário de madeira. viu suas roupas, casacos, sapatos. viu também alguns presentes, um estojo de desenho e um caderno de poemas.
os sapatos não calçavam. tinha a impressão que eram os calos dos muitos e longos caminhos percorridos que fizeram seu pé crescer até o ponto de não caber. os casacos não fechavam. o frio que já tinha passado grudara em seu corpo que não conseguia despi-lo. as calças não entravam, as camisas agarravam. nada mais cabia.
foi ai que viu que tudo que havia ido buscar, nada mais lhe servia.

domingo, 6 de setembro de 2009

coisas simples

meus amigos sempre me ouvem falando isso mas a minha felicidade é bem simples. uma das sensações mais agradáveis é (visualiza o cenário): buteco pé sujo; mesa amarela; garçom amigo; antárctica gelada; carlton red (qnd ele ta fazendo efeito); amigos; besteiras. se não for pedir muito, peço música ao vivo. ou um sertanejão de tocar o coração pra berrar a plenos pulmões.

se felicidade não é esse estado de espírito, to precisando conhecê-la, viu!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

estimação

"Adotei uma pequena ilusão
Alimento-a constantemente
Brinco com ela de correr
E também brinco de pegar
Vez por outra, a solto
Vez em quando a levo pra passear
Eis a minha companhia
Minha melhor amiga
Dócil, inteligente, alegre, solta
Muito embora, vez em quando
Ela arrebente a corrente

E, de repente, me morda."

SnowFlake, essa poeta aqui!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

calendário

me lembro de cor
dos agostos que senti
em um outro outono
que não vem mais.
dizendo me lembro
do meu nascimento
do meu reveillon
já não era o mesmo
feito um obreiro
marceneiro de mim mesmo
abri a boca e a alma
maior ainda ficou o gosto
de juventude que para o tempo
se ajoelha e contempla
as folhas de outono
que caem em setembro.

eu vi um amor morrer

Eu vi um amor morrer.
Ele floresceu em setembro. Um pequeno botãozinho roxo, tão pequeno e frágil que poucos lhe conseguiram ver antes que florescesse. Os mais experientes de longa data sabiam: "É sim um amorzinho, eu nunca confundo. Veja só a maciez das pétalas".
E daquele pequeno botão todos puderam admirar as várias cores que começaram a se formar. Eram rajadas azuis, feixes amarelos, pequenas nuvens brancas... Era de um colorido tal que em poucos amores se vê.
Cresceu forte e vigoroso aquele amor. O perfume, nem todos gostavam, é claro. Não era uma perfume suave como o das rosas, era um perfume, podemos dizer, mais denseo e encorpado (não como vinho, como chopp). De qualquer forma, bom ou ruim, tinha um perfume próprio aquele amor.
Meses passaram. Não se pode dizer que qual fosse a estação o amor estava à mesma maneira. As vezes envergava tanto que parecia que ia murchar e morrer. Por outras vezes, perdia a cor; as vezes o perfume se tornava enjoativo. Certa vez até disseram: "Isto não é amor. Veja só a palidez das pétalas. Nunca vi amor assim." Mas os mais experientes ainda o reconheciam: "Pois é claro que é amor. Amor é assim mesmo, muda tanto! Perde a cor, muda o cheiro, tem alguns que até pétalas perdem. Mas deixa estar. Logo logo estará colorido novamente, só continue a cuidar".
O fato é que, embora murchasse, sempre trazia de novo o colorido. Mas embora voltasse, percebi-a-se que estava perdendo algo de sua juventude. Já não era assim um amor tão novo. E nisso os mais experientes não estava certos. O amor começou a perder suas cores e estas nunca mais se viram. Até qe um dia o amor morreu. Seco, deitou-se ao chão. Mesmo a água que tentou-se que o revigorasse foi em vão.
Os mesmo descrentes disseram "Não lhe disse? Isto não é amor, veja só como morreu. Não é certo, pois, que amores não morrem?". Que dissessem! Eu sabia que era amor. Em todos seus momentos que eu acompanhei, era amor! Desde o início até o fim, esgotado em suas reservas.
E se não fosse de início, não fosse de nascença, em cada cuidado prestado, em cada gota regada, eu lhe fiz amor.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

eternidade

então ontem foi dia de butecar. conversa vai, conversa vem, cerveja gelada na mesa, carlton na mão... veio de novo o pensamento: "podia ficar aqui pra sempre, conversando e bebendo... minha felicidade é tão simples".

não, não sou um alcoólatra (ainda que nem todos partilhem dessa opinião comigo). mas essa cena ocorre com ou sem bebida, com ou sem cigarro. basta ser coisa boa. sendo bom, quero que seja eterno.

a cerveja que nunca seque, o cigarro que fique sempre aceso, o assunto que nunca morra... a noite que nunca acabe. toda noite é assim, quero que ela continue indefinidamente.

durante a viagem, e mais uma vez ela, eu toquei muito nesse assunto. em como não sei lidar com finais porque eu quero que as coisas sejam eternas. mesmo a viagem, se as condições objetivas (ah, o dinheiro! ah, as obrigações!) permitissem, teria prolongado certamente.

daí, que as coisas não devem ter fim, esse texto também termina assim... querendo continuar...

domingo, 26 de julho de 2009

enep

aliás, vou falar um pouco mais do enep. depois eu edito e apago um bocado.

Mas alguns momentos são memoráveis. O que dizer de uma viagem que até terapeuta de casal eu banquei??? Aliás, terapeuta não, Regina Volpato nos Casos de Família! haha "Aaaai, coleeeeega.". E, brincadeiras a parte, momentos despretensiosos como cantar legião depois de anos tocam em algum lugar que você também não tocava há anos...
Sair sozinho pela noite já é clichê, mas sempre uma novidade (contraditório mesmo!). E a surpresa foi encontrar pessoas inesperadas. Espírito Santo que me aguarde.
Não deu pra divulgar tanto o "Aquecimento da Mc Jenny", mas quem ouviu não vai esquecer nunca! Especialmente a galera de Palmas! Aliás, o que é a galera de Palmas??? Tá de parabéééns! "Atóóro o perigon de Palmas". Rosa Mara diria isso. E Miracema??? Lá em Miracema que é bão! O palha é ter que acordar as 4 da madruga pra ir pra UFTO (a federal do tocantins, galera... e lê-se úfito).
E os banhos no perrengue?? Naaada, compensava ver a cara do povo na hora de sair da cabine procurando saber da onde aquelas duas pessoas haviam saído...
Aliás, que eu e Ivi nunca moremos juntos, senão a casa vai virar um perdigueiro. O que compensava é que as inquilinas que moravam nos fundos eram até arrumadinhas. Lá em Palmas era assim não! Na Escola de Machos Alfa do Brasil não tinha aulas pra cuidar da barraca! Mas que os dois primeiros membros dessa escola representaram bem a classe, isso ninguém pode negar!
Horas na barraca, a barraca do alto da escada, a do pedágio que acabou que não rolou. Mas muita bebida, conversa e risada saiu dali. Conversas. Horas e horas de conversa. Tá certo que a maior parte do tempo era eu berrando alguma besteira ou falando sozinho (acho palha, galera!), mas minha voz ausente é prova de horas e horas de conversas. Conversas bestas, histórias que vão ficar pra sempre (como o signo das tartarugas e o perfume de jazzmim), idéias bem trocadas, fofocas (aliás, esse foi o CA mais venenoso que já rolou! Que digam os e-mails privados pré-ENEP).
O final é sempre uma barra. Como eu disse, não sei lidar com términos, mas, alguns bem sabem, elaboro rápido meus lutos. Muito foda ter que se despedir dos lugares, das pessoas, dos atos, das lembranças... Ver todo mundo indo embora, vendo vazios onde antes estava ocupado (literal e figurativamente). As despedidas, falar tchau, fazer declarações, sentir que aquilo lá acabou.
Mas ao final, luto elaborado, coração quente e cabeça em vários lugares do Brasil, o que fica é essa sensação de que o mundo é isso, e realmente cada despedida é um encontro, e desse encontro, além de uns 4 esqueiros, umas 6 caixas de cigarro, uns 100 chopps a um real (e isso numa tarde só), uns tantos litros e cerveja e muita muita lombra, fica um saldo de sentir-se um pouco mais humano, um pouco mais construído em minha existência.

p.s.:

o endereço do blog perdido é http://momentscombusting.blogspot.com

entrou em combustão!

encontro

Como eu sempre disse, "eu sou todas as pessoas que me fizeram assim".
O Encontro dessa semana me fez pensar sobre meus amigos. Aliás, primeiro de tudo em como é bom conhecer gente nova, como qualquer pessoa em qualquer situação pode trazer uma grande colaboração pras nossas vidas. Em como poucos dias podem ser inesquecíveis e mais que suficientes para criar grandes estimas. Dai eu pensei nos meus grandes amigos (os melhores amigos do mundo, com certeza). Nos amigos distantes que não vejo há mais de ano mas que são essenciais. Nos amigos de perto, mas que pela rotina, pelas obrigações ou mesmo as vezes porque esquecemos em como isto é importante, deixamos de manter contato tão freqüente, deixamos que muitas vezes estejamos ausentes. Nos amigos de farra, nos amigos de aula... E nas milhares de pessoas que passam em nossas vidas nem que seja por um ou dois minutos mas que trazem contribuições inestimáveis. Como diria Vinícius de Moraes "eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos."
Porque a vida é relação, a vida é troca, construção e sempre, sempre, sempre... AFETO!

Sentidos Concretos

Então, perdi meu antigo blog. Criei um login pra usar só pra ele e esqueci login, senha, nome da primeira professora... Minha memória não é mais como antigamente. Nada é.

Daí o nome, dessa vez respira o mesmo ar que eu... Psicologia... Já diria vovô Marx que "tudo o que é sólido se dissolve no ar". O que raios isso quer dizer? Primeiro, a mudança como realidade da matéria. Só complicou? A realidade está sempre em movimento, o que agora é, no momento seguinte já deixa de ser. Só que esse movimento é tão próximo e veloz que tudo acontece ao mesmo tempo. Tudo o que é, ao mesmo tempo não é. Tese e antítese formam uma unidade.
Daí pro vovô Marx esse movimento obedece à ordem do materialismo, mas não o materialismo mecânico, das relações entre as coisas de forma aparente, mas o materialismo histórico, em que somente o desvelamento das condições histórias de produção da infraestrutura pode ascender ao conhecimento do real, para além da aparência. E é essa infraestrutura que condiciona todas as outras coisas, que vão desde os movimentos literários até o seu sentimento mais íntimo, que você julga absolutamente pessoal e "subjetivo".
O legal então, e já está expresso na frase do vovô é que esse subjetivo não é separado do concreto. Não existe uma relação de exclusão entre as condições materiais e "subjetivas", mas pelo contrário: tudo o que é sólido se dissolve na medida em que toda condição material também "evapora" e se torna superestrutura, sem nunca deixar de ser.
O que se têm por subjetivo não é abstrato, é concreto, e entende-se por concreto as múltiplas determinações históricas e materiais a que estamos submetidos. Submetidos, entretanto, de forma dialética.
O subjetivo é dado a partir dos sentidos produzidos na tensão entre os significados socialmente partilhados e a história de vida de um sujeito, sempre de forma criativa e a sobredeterminar outras determinações anteriores. Esse sentido subjetivo, sendo assim, é, invariavelmente, a unidade dialética entre o simbólico e o afetivo.
Tá, e pra que essa explicação?

Pq eu acho que o fundamento primeiro é saber que todas essas relações, pensamentos, e sentidos são concretos, são fruto de uma história de vida, são fruto de situações determinadas, de mediações e contatos com a cultura.

Daí eu venho um pouco aqui, relatar as experiências que vão me determinando, as pessoas que vão me construindo e até os pensamentos que vou jurando que são meus...