quinta-feira, 24 de junho de 2010

os invasores estão chegando

Corram para as montanhas

Eles querem nos pegar
querem nossos corpos
querem os nossos afetos
mesmo querendo nos afetar
Cuidado
eles capturarão seus pais, seu amores
seus amigos
Se infiltrarão no rádio, na televisão
A invasão começou
Cuidado
Eles não vão parar até invadir o seu corpo
São vermes parasitas
Se revestirão de você
De sua carne, de seu rosto
Morarão no seu coração
E não te deixarão pensar

Eles querem te dominar
Por todos os lados
Todas as entradas
Mas eles querem te fechar

Eles querem nossa vida
Querem nosso sangue
Nossa voz
Até nos emudecer:
e por aqui chegaram
.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Carta a um amor suspenso (ou Do Ego e Do Amor)

Mundo interior, tantos dias do tempo que não passa.



Oi, meu amor!
Estou indo consertar nosso amor. Não se preocupe, vou achar nossa solução. Talvez ouvir um pouco de Cazuza pra buscar inspiração. O poeta exagerado cantou minúcias da vida e é dessas minúcias que a gente perece.

Me dá um tempo, um ou dois dias em retiro, fora desse dia a dia que nos toma, engole. Vim sozinhos pois assim prefiro. Vou quebrar minha cabeça juntando preces e rezas pra consertar o nosso amor.

Nesse tempo, fica em paz. Não duvida que eu volto. Trago a resposta e respondo as dúvidas que a vida põe ou que a gente põe na vida. Fica em paz, me esquece que quando eu voltar levo nosso amor novo em folha.
Só preciso de alguns dias, contemplar nossa história, olhar fixo nosso amor e ouvir o que dele venha. Que a gente se responda e conserte nosso amor.

Um amor assim não pode ser jogado fora.

pedi a deus

Pedi a Deus
Pedi a Deus
Disse adeus
Pedi pra Papai
Noel, e nao Do Céu
Uma bola, lápis e papel

Assim foi mais fácil
Meus pedidos
foram todos atendidos
E se falta alguma coisa
o lapis sai da minha mão
e o entrego a imaginação.

17.01.2005

momento

Vejo cada movimento teu
nem uma respiração me escapa
Nãoa adianta arregalar os olhos
e piscar seguidamente.

Não perde tempo com a gota
de frio suor que escorre na têmpora
Deixa o seco passar pela garganta
o úmido está na testa.

Meus olhos bem atentos
mas apenas meio abertos, analisando-te
Lábios cerrados, boca dura
Um olhar que condena.

Terceira personagem
uma arma em minha mão
fria, mas pulsante
e acima de qualquer moral.

Apontada em tua direção
Gatilho pressionado
a bala escorre pelo cano
viaja pelo espaço, num tempo alargado.

Chega na pele, viola a epiderme
escancara a carne
atrapalha o ritmo do coração
o corpo se despede da vida
a mente sem entender.

Olho atorderrorizado
o chão chegando mais perto
Só assim entendo
que quando em ti atiro
atinjo a mim mesmo.


Março/2005.

pausa

Tô lendo umas coisas antigas e nessa vidinha de meu deus já fui uns 5, viu. E no meio de bytes deletados que não consigo acessar, um poema que me fez ver que nos momentos de recém perdida virgindade já escrevia poema erótico sem o saber. Engraçado que mesmo a intenção sendo totalmente outra, todo mundo entendeu como sendo sobre sexo. Inclusive eu, relendo agora. Vai no próximo post.

ofício

Do amor, não falo
O amor queimou a minha língua
Da paixão, não há nada a dizer
Nao conheço os seus sinais
Meus sentimentos se rebelaram
Não querem mais o massacre das palavras
Ser postos de um lado para outro
reduzidos, encaixados
Não querem mais ser cindidos
esculpidos, encarceirados
Meus sentimentos querem a liberdade.

02.09.09

ouroboros

terminei por voltar ao começo
girar meus ciclos
desafiar o infinito
comecei a rever meus términos
comemorar a finitude
pelas noites de eternidade

01.09.09

terça-feira, 1 de junho de 2010

das obrigações

das relações humanas não duvido nada.
como disse alguém, o típico do humano é toda a humanidade. acredito cada vez mais no cotidiano, nas práticas do dia-a-dia, nas minúcias, nos atos e afetos. lembro do nome do blog da elisa lucinda, uma das minhas poetas preferidas, chamado devota do cotidiano. também sou um desses, devoto do cotidiano.
e a máxima do marx ("tudo o que é sólido se dissolve no ar") vem não como premissa mas como consequência. pela capacidade do homem de se reinventar de acordo com a Humanidade e pela miudeza das coisas que nos constróem, não creio nas permanências senão como reposições. já vi amores morrerem, já vi amizades serem maiores que famílias, já vi gente que se reinventou do nada e gente que por nada se inventou pra se matar. não fui longe, tudo isso acontece tão próximo que só é preciso escutar uma conversa, questionar uma entrelinha e acreditar. acreditar que a vida tem uma dimensão tão incomensurável não somente pela sua grandeza, mas pela sua simplicidade. se estende infinita rumo ao fim do universo e rumo ao começo de um quark. em ambos os sentidos, é imensamente grande ou ridiculamente pequena.
as relações humanas apenas acontecem. são isto: acontecimentos. e nenhum deles tem obrigação para com nada, além da produção do novo e da vida. essa ausência de obrigação pode parecer um certo desprendimento (e não há como negar que seja), mas também denota o extremo oposto: uma valorização extrema dessa capacidade humana de, do nada e para nada e por nada, criar e manter o que tão frágil é.
mas vive-se à beira de um abismo: sem amarras, os afetos podem se precipitar e carregar junto buraco a dentro relações antes tão profundas (sem trocadilhos). e elas simplesmente se vão. relações, as verdadeiras, não as formais, não são obrigações, ainda que acarretem algumas. mas apenas tratam essas obrigações enquanto se dispor a tal. ou seja, se trata efetivamente de concessões, não obrigações de fato. relações não são obrigações. são atos de afeto. são o que nos fazem humanos. e tudo o que é humano é apenas realidade possível que, como estado da matéria, tende a se dissolver no ar...