domingo, 11 de outubro de 2009

retorno

dai ele retornou à casa onde crescera. já faziam 20 anos que não cruzava aquele portão, mas viu uma bola de futebol deixada no gramado e pela janela uma bituca de cigarro ainda fumegava descansando no cinzeiro.
viu moleques descalços correndo e uma senhora que mexia a panela e olhava o relógio, mal sabendo que das horas que contava, poucas outras restavam por vir. como sentia saudade! mas não estava ali para buscá-la.
foi até o quarto e sentiu um cheiro de mofo, das coisas guardadas, trancadas em meio à umidade das lágrimas que nunca se viram libertas. inundavam por ali. estranhou como elas não haviam se alastrado pelo resto da casa
abriu o grande armário de madeira. viu suas roupas, casacos, sapatos. viu também alguns presentes, um estojo de desenho e um caderno de poemas.
os sapatos não calçavam. tinha a impressão que eram os calos dos muitos e longos caminhos percorridos que fizeram seu pé crescer até o ponto de não caber. os casacos não fechavam. o frio que já tinha passado grudara em seu corpo que não conseguia despi-lo. as calças não entravam, as camisas agarravam. nada mais cabia.
foi ai que viu que tudo que havia ido buscar, nada mais lhe servia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário