terça-feira, 1 de junho de 2010

das obrigações

das relações humanas não duvido nada.
como disse alguém, o típico do humano é toda a humanidade. acredito cada vez mais no cotidiano, nas práticas do dia-a-dia, nas minúcias, nos atos e afetos. lembro do nome do blog da elisa lucinda, uma das minhas poetas preferidas, chamado devota do cotidiano. também sou um desses, devoto do cotidiano.
e a máxima do marx ("tudo o que é sólido se dissolve no ar") vem não como premissa mas como consequência. pela capacidade do homem de se reinventar de acordo com a Humanidade e pela miudeza das coisas que nos constróem, não creio nas permanências senão como reposições. já vi amores morrerem, já vi amizades serem maiores que famílias, já vi gente que se reinventou do nada e gente que por nada se inventou pra se matar. não fui longe, tudo isso acontece tão próximo que só é preciso escutar uma conversa, questionar uma entrelinha e acreditar. acreditar que a vida tem uma dimensão tão incomensurável não somente pela sua grandeza, mas pela sua simplicidade. se estende infinita rumo ao fim do universo e rumo ao começo de um quark. em ambos os sentidos, é imensamente grande ou ridiculamente pequena.
as relações humanas apenas acontecem. são isto: acontecimentos. e nenhum deles tem obrigação para com nada, além da produção do novo e da vida. essa ausência de obrigação pode parecer um certo desprendimento (e não há como negar que seja), mas também denota o extremo oposto: uma valorização extrema dessa capacidade humana de, do nada e para nada e por nada, criar e manter o que tão frágil é.
mas vive-se à beira de um abismo: sem amarras, os afetos podem se precipitar e carregar junto buraco a dentro relações antes tão profundas (sem trocadilhos). e elas simplesmente se vão. relações, as verdadeiras, não as formais, não são obrigações, ainda que acarretem algumas. mas apenas tratam essas obrigações enquanto se dispor a tal. ou seja, se trata efetivamente de concessões, não obrigações de fato. relações não são obrigações. são atos de afeto. são o que nos fazem humanos. e tudo o que é humano é apenas realidade possível que, como estado da matéria, tende a se dissolver no ar...

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